8ª GRABADOS & GRAVURAS

Paulo Cheida Sans*

        A mostra "Grabados e Gravuras - Aspectos da gravura no Acervo Olho Latino" acontece de 22 de novembro de 2005 a 15 de janeiro de 2006 na Galeria do primeiro andar da Caixa Cultural em Brasília.

        A 1ª Grabados & Gravuras - Mostra Latino-Americana de Gravura - aconteceu na Pontifícia Universidade Católica de Campinas em 1991. Outras aconteceram depois em várias cidades, como na Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília, no Festival de Arte e Cultura de Corumbá realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e na Salle d' Exposition - Pavillon Alphonse-Desjardins - da Universidade Laval, em Quebéc, Canadá. Nesta última, em 1998, a mostra recebeu premiação como "destaque" outorgado pela Universidade Laval. Apreciada de modo geral, ganhou elogios de especialistas e críticas positivas publicadas pela imprensa nas cidades onde acontecia.
Dando seqüência às novas edições, tornou-se Bienal a partir de 1999, sendo realizada a V Grabados, no SESC de Piracicaba, SP, a VI Grabados, na Pinacoteca Municipal de Franca,SP, em 2001, e a VII Grabados, na Galeria da Faculdade de Artes Visuais da PUC-Campinas, SP, em 2003.
        Essas mostras, de caráter não competitivo, serviram para vincular um pouco mais o relacionamento cultural entre os países-irmãos. Contando com o apoio dos artistas expositores, muitas obras expostas foram doadas para o Acervo Olho Latino, que hoje, sem dúvida, é um dos mais representativos do país na área da Gravura.
        A constituição da atual mostra, especialmente concebida para o Conjunto Cultural da Caixa, é um resumo das sete edições anteriores, contendo um pouco das obras expostas em cada evento, realizadas por gravadores consagrados da América Latina. Participam 23 expositores, representando 10 países. Oferece um panorama dos procedimentos técnicos da arte da gravura, mostrando xilogravuras, gravuras em metal, serigrafias, litografias e outros processos, além de assinalar importantes aspectos da gravura na América Latina, por meio das formas e temáticas abordadas. No geral, a mostra registra a significativa participação da gravura no contexto da arte contemporânea, situando sua produção como um pólo propulsor da arte latino-americana.
        Participam da mostra os seguintes gravadores:

Alda Armagni
"Renascimento Espiritual"
Água-forte e água tinta, 1991 - 80 x 60 cm
        Alda Armagni (1933) é uma das principais gravadoras da Argentina. Acadêmica da Academia Nacional de Belas Artes, expõe desde 1962, tendo realizado exposições individuais na Itália, Holanda, Espanha, Estados Unidos, Chile, Bolívia e outros países. Participou de numerosos e importantes eventos internacionais, tendo recebido dezenas de prêmios, entre os quais a "Distinção" na II Bienal Internacional de Gravura, em Buenos Aires (1970). Participou da IV e V Bienais de Arte Moderna de São Paulo. Suas obras figuram nos importantes acervos do Museu de Arte Moderna de Tóquio (Japão), na Biblioteca Nacional de Paris (França), no Castelo Sforzesco em Milão (Itália) e outros. Suas gravuras em água-forte, de estilo inconfundível, criam um mundo imagético repleto de simbologia, que remetem a escritas e desenhos de época rudimentar feitos num grafismo próprio e impecável.

        Alejandra Bendel, nascida em 1966 no Chile, iniciou sua carreira artística no começo da década de 90. Participou de exposições em seu país e no Brasil, Austrália, Japão, Espanha e França. Suas gravuras em metal demonstram traços espontâneos, sugerindo garatujas infantis repletas de "liberdade".
        Anna Kerpel (1937) representa a Colômbia. A artista participa ativamente do meio artístico, tendo realizado muitas exposições individuais e coletivas. Participou de salões e bienais em seu país e no exterior, expondo na Alemanha, Espanha, Equador, Japão, Holanda, Argentina, Itália e Canadá. Recebeu premiações em certames na Colômbia, Estados Unidos e França. Realiza gravuras na técnica de colografia, imprimindo texturas que formam um rendilhado que parece fazer parte de um mundo de partículas microscópicas. O potencial de seu trabalho consiste na criação de formas coloridas que dialogam com os relevos criados no papel.

        A gravadora Argentina Alicia Scavino participa de exposições desde 1971. Realizou 56 mostras individuais, além de ter representado seu país em 53 importantes mostras e bienais. Recebeu 36 prêmios, dentre os quais a "distinção máxima" na 6º International Print, de Taipei, China (1993), o "Ecqual Prize" na International Art Trienale Majdanek'97, Lublin, Polônia, o "Purchase Prize Award", Gilkey Center, Portland Art Museum, EUA (1998) e o "First Prize" no 4th Sapporo International Print Biennale, Japão. Domina com maestria as técnicas da gravura, criando obras que registram uma figuração peculiar, harmonizando as cores e os claros e escuros, formando focos melancólicos, serenos e românticos.
Alicia Scavino
"Bombardeio com o café de cada manhã I"
Água-forte e água tinta, 1993 - 65,5 x 79 cm

        A artista peruana Carolina Salinas (1966) é professora de gravura da Faculdade de Arte da Universidade Católica de Lima. Iniciou na carreira artística por volta de 1990. Participou da 5ª International Biennial Print Exibitions, Taiwan, China (1992), X Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano e del Caribe, Porto Rico (1993), 1ª Muestra Latinoamericana Miniprint, Rosario, Argentina (1994), Festival Internacional de Grabados, Madrid, Espanha (1995) e de vários outros eventos. Recebeu premiações na The 3rd Kochi International Triennial Exhibition of Prints in Kanagawa, Japão (1995) e na 2ª Bienal Bellas Artes de Lima, Peru (1995), sendo agraciada com a "1ª Menção Honrosa em Gravura". Suas xilogravuras feitas com sulcos, traços e ritmos suntuosos são penetrantes. Demonstram uma "inquietação" própria de um encontro romântico vivenciado em total plenitude.
        Uma das representantes do Brasil é Celina Carvalho (1956). Diretora Adjunta do Museu Olho Latino, Campinas, SP, participou de inúmeras mostras, como da "22º Print International of Cadaqués", Girona, Espanha (2002), da "International Engraving Salon", Florean Museum, Carbonari, Romênia (2000), e da "2ª Bienal de Arte" - Integracion Cultural Panameña - Panamá (1996). Suas gravuras em relevo resultam de intensa pesquisa de materiais na confecção das matrizes. Aborda uma temática nacional, valorizando o folclore e a cultura popular. A figuração é espontânea, em harmonia com os detalhes colocados no plano de fundo, configurando assim uma marca particular de criação.

Ernesto Mallard
"Pura Ficção"
Acrilocografia, 1996 - 65 x 48 cm
        Ernesto Mallard (1932) é um artista mexicano muito versátil, que trabalha com diversos materiais. Presidiu o Conselho Diretivo da Associação de Artistas Plásticos do México. Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais, inclusive o reconhecimento por parte de organismos internacionais como a ONU e a UNESCO. Realizou cartazes para a comissão organizadora da XIX Olimpíada do México em 1968. Suas gravuras, feitas com matrizes de acrílico, têm a "morte" como referência, tratada com muita naturalidade. Nelas, o artista convida à reflexão sobre situações críticas e dilacerantes da existência humana no cotidiano.

        O brasileiro Henrique Spengler (1958 - 2003) foi Diretor de Cultura da Prefeitura Municipal de Coxim, MS. Formou-se em Educação Artística pela FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado (1981) e era pós-graduado em História da Arte. Membro ativo de associações em favor da cultura indígena criou uma nova visão contemporânea ao reinventar imagens baseadas nas abstrações das cerâmicas, couros e tatuagens da tribo Kadiweo-Mbayá, originária do Sudoeste de Mato Grosso do Sul. Era um artista neo-nativista muito original, tendo desenvolvido a técnica em gravura "cotton", que consiste em imprimir no papel suporte valendo-se de um lençol como matriz. Participou de diversas exposições e salões, tendo sido premiado várias vezes. Recebeu o "1º Prêmio em Gravura" no 3º e 5º Salão de Artes de Dourados, MS. Participou da exposição "Por uma Identidade Ameríndia" em Assunção, Paraguai, e em La Paz, Bolívia. As gravuras do artista são releituras da simbologia nativa "Guaicuru".
        Ivone Chia Fan nascida no Chile em 1956, começou a expor em 1990. Participou de várias mostras em seu país, na Espanha, Itália, Japão, Argentina e em outros. Domina com mestria os recursos técnicos da gravura em metal, criando imagens que aludem a lembranças da natureza, como se fossem rochas imaginárias com áreas expostas e ocultas da luz. Esse primor técnico mostra facilmente que se trata de uma artista rigorosa consigo mesma, visando à qualidade impecável de seu trabalho.
        Joaquim Gimenes Salas (1936 - 1983), artista brasileiro precocemente desaparecido aos 47 anos, participou de duas Bienais Internacionais de São Paulo e de importantes mostras, como a Bienal Latino-Americana de Gravura de Porto Rico. Implantou o ateliê de gravura em Atibaia, SP, onde residia. Ainda hoje, seu trabalho como professor e gravador ressoa na cidade. Suas xilogravuras são caracterizadas por uma figuração extravagante, que muito reflete o Brasil gerado por diversas etnias.

Fernando Torres
"Vésperas"
Serigrafia, 1987 - 50 x 65 cm
        Fernando Torres, nascido no Equador em 1952, expõe constantemente em seu país e em salões, bienais e trienais internacionais, como a Inter Grafic na Alemanha e a Bienal Latino-Americana de Gravura de San Juan, Porto Rico. Participou de muitos eventos importantes no Japão, Cuba, China, França, Estados Unidos e outros. Suas serigrafias possuem um encanto místico, contendo cenas que parecem representar lendas, cujas figuras e animais se engendram num mundo de máscaras e utensílios repletos de magia.

        Letícia Ocharán (1942-1997), pintora e gravadora mexicana, presidiu a Associação de Artistas Plásticos do México, foi membro da direção do Salón de la Plástica Mexicana e ilustradora de obras literárias, como a do poeta Roberto López Moreno. Como crítica de arte colaborou nos principais periódicos de seu país e para as revistas Plural, Excélsior e Zurda. Sua obra é marcada pela finura e delicadeza, herança da Escola de Pintura Mexicana. Sua gravura alia um soberbo jogo de luzes e sombras a formas sutis e sensuais.
        A artista chilena Lisi Fox expõe desde a década de 60. Tendo se especializado na Califórnia, EUA, é pós-graduada em Artes em Viena, Áustria. Expôs no Atelier Point & Creteil, em Paris, França, na 17º International Independante Exhibition of Prints em Kanagawa, Japão, na Galería Praxis, Santiago, e no Museu Nacional de Belas Artes, Santiago, Chile, e em muitas outras mostras. Faz gravuras em metal contendo uma figuração despojada, transmitindo sensações e sentimentos melancólicos.
        Desaparecida em 2000, Luisa Reisner deixou um legado de conquistas. Foi membro titular da Academia de Ciências, Artes e Letras de Paris e membro ativo do Museu Nacional de Gravura de Buenos Aires. Obteve cerca de 36 prêmios, destacando-se o "Gran Premio" no XVIII Concurso Internacional de Pintura, em Cannes, França e o "Primeiro Prêmio" no XXXI Salón Nacional de Grabado na Argentina. Suas paisagens em água-forte e água-tinta transmitem serenidade numa atmosfera de mistério.

Maria Bonomi
"Dino V/A"
Litografia, 2001- 100 x 70 cm
             Maria Bonomi (1935) é um dos mais expressivos nomes da gravura brasileira, campo no qual adquiriu reconhecimento internacional. Entre muitos prêmios, recebeu o Prêmio de "Melhor Gravador" da VIII Bienal de São Paulo (1965), o "Prêmio de Gravura" da V Bienal de Paris (1968); e o "Prêmio de Gravura" da VIII Exposição Internacional Ljubljana (1971). Realizou várias exposições individuais no Brasil e no exterior, e está representada em significativas coleções em museus, como o Museum Art (Nova Iorque), Museu do Vaticano (Roma), Museu Bezelel (Jerusalém) e Museu de Arte Moderna (São Paulo). Suas litografias traduzem de modo significativo a sua criatividade audaz, que eleva o contexto da gravura como meio expressivo inigualável.
A argentina é Marta Guerra-Alem nascida em 1941 expões desde o final da década de 60, e tem recebido vários prêmios. Participou de inúmeras mostras, como as acontecidas no MOMA, em New York, EUA, no MAM de São Paulo, na Galeria Crozier, em Lyon, França, no Museu de Arte Moderna de Miami, EUA. Como curadora organizou exposições de "Gravura Argentina" em vários países das Américas Central e do Sul. Suas serigrafias mostram uma composição gerada por enovelados e caracóis que se engendram, formando um mundo surreal.

        Uma das mais destacadas artistas do Chile é Matilde Pérez (1920). Pintora, escultora e gravadora, é a principal expoente da arte cinética no Chile. Foi professora da Escola de Belas Artes da Universidade do Chile. Integrou o Grupo Rectángulo, fundado em 1955, que contribuiu para a expansão da arte chilena. Recebeu bolsa do governo Francês para estudar em Paris em 1960, onde pôde conhecer a obra de Víctor Vasarely, modificando radicalmente a sua pintura, fazendo incursão para as formas abstratas coloridas. Recebeu o Prêmio de "Melhor Realização" (1982) do Círculo de Críticos de Arte, pelo Mural de mais de 60 metros de extensão realizado no Edifício Apumanque de Santiago. Suas serigrafias se destacam pela rigorosa composição estrutural de cor e linha, criando um jogo ótico entre a figura e o fundo. Pesquisa durante anos os estímulos visuais, utilizando diversas técnicas, suportes e construções cinéticas.
        Representante de Porto Rico, Néstor Millán (1960) é professor do Departamento de Belas Artes da Universidade de Porto Rico. Participou de inúmeras mostras. Recebeu a Bolsa de Arte Experimental de Reconhecimento Profissional, outorgada pela Fundação de Porto Rico. Suas gravuras em metal enfocam figuras difusas de nus masculinos com exímia técnica, conseguindo efeitos e tons que patenteiam o seu estilo.
        Oscar Carballo Perez, artista cubano nascido em 1951, participou de inúmeras mostras em seu país e no exterior. Suas gravuras em metal enfocam o "músico" numa figuração marcante, sendo valorizada por ranhuras sinuosas, caracterizando um ser em estado de "êxtase". Parece estar vibrando, sentindo o som e acompanhando o ritmo musical.
        Paulo Cheida Sans (1955) é professor da Faculdade de Artes Visuais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Participou de cerca de 400 exposições, sendo 80 no exterior. Expôs em importantes mostras, tais como a International Triennial Of Graphic Art Bitola, Macedônia (1997), International Print Exhibition - Portland Art Museum, Portland, USA (1997), 11Th Norwegian International Print Triennale - Fredrikstad, Noruega (1995), 10ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, Porto Rico (1993) e The Hanga Annual, Metropolitan Art Museum, Tóquio, Japão (1985). Suas gravuras em linóleo mostram personagens fictícios, supostos políticos, que contracenam com figuras exóticas. Aborda os conflitos sociais, como a injustiça e a corrupção.
        O artista cubano Ramon Carulla (1938) é autodidata. Recebeu premiações na 6ª Bienal de San Juan Del Grabado Latinoamericano, Porto Rico, (1983), no Fourth Annual Pan American Art Exhibition, Miami, Florida, USA, (1972 / 73) e em muitos outros eventos. Foi agraciado com o prêmio "Melhor Artista", outorgado em 1965 pelo Ministério de Obras Públicas de Cuba. Suas obras estão espalhadas em significativos acervos, tais como: Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Arte Moderna da América Latina em Washington, EUA, Museu Tamayo no México e Fundação Juan Miró, Barcelona, Espanha. Suas gravuras, tanto as litografias como as calcográficas, mostram uma figuração expressiva, aliando pitadas do grotesco a muita ingenuidade, conseguindo com mestria mostrar o âmago das situações criadas.

Raul França
"Jura-me"
Xilogravura, 1989- 75 x 56cm
        O artista uruguaio Raúl França (1939) é formado pela Escola Nacional de Belas Artes de Montevidéu, Uruguai e pela Escola Superior de Belas Artes de Paris, França. Expõe desde meados da década de 70. Participou, entre outras, de exposições no Musée Municipal Baron Gerard, Bayeux, França (1978) e da Internationale Grafik Triennale, Frechen, Alemanha (1983). Suas xilogravuras emanam um visual carregado de sentimento, abordando o ser humano e suas frustrações. Sintetiza as figuras e as cenas, enaltecendo as situações retratadas. O romantismo dramático está perfeitamente ajustado com a precisão técnica de gravar. Mostra o cotidiano com dramaticidade. Escarna as figuras, mostrando a "dor", a "angústia" e o "desencanto" da vida.

        Viviana Sierra, nascida na Argentina em 1957, é professora do Instituto Santa Ana de Belas Artes. Desde 1976 tem participado de várias mostras em seu país e no exterior. Expôs na Irlanda, França, Polônia e Japão. Entre outros prêmios, recebeu "Menção de Gravura" na Small Graphic Forms de Lodz na Polônia. Apresenta gravuras em metal resultantes da combinação e articulação de matrizes de pequenos formatos, formando uma espécie de registros sagrados.
        A "Grabados & Gravuras" é uma mostra que expõe a gravura pela gravura sem nenhuma pretensão além de exibi-la como manifestação de arte, porque, e por isso só, já vale a sua realização.

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* Paulo Cheida Sans
Curador do Acervo Olho Latino
Professor da Faculdade de Artes Visuais - CLC - PUC-Campinas