O ROMANTISMO DE ALICIA SCAVINO
Paulo Cheida Sans*
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Conheci melhor
a obra gráfica de Alicia Scavino na ocasião que organizei como
curador a "Grabados Argentinos, Hoy", a convite da embaixada da
Argentina no Brasil, mostra que foi exposta na Casa da Cultura da América
Latina da Universidade de Brasília, na gestão da eficiente Diretora
Profa. Renée G. Simas, em 1995. Um pouco depois desta exposição,
convidei a Alicia para participar de outra, que também contava com
minha curadoria, a "Grabados & Gravuras", assim acontecendo
doação por parte da artista de três obras importantíssimas
de sua rica produção para o acervo Olho Latino. Estas gravuras
participaram de importantes eventos e foram impressas em diversos meios de
divulgação.
A impressão
que tive na ocasião é que a artista estava doando as obras com
muito carinho, devido a escolha cuidadosa das gravuras e também por
ter enviado adequadamente as informações e catálogos
a seu respeito. Creio que ela estava acreditando no futuro de um promissor
acervo, que na época, era feito em nome da revista Olho Latino. Na
época, o seu nome já despontava como uma das principais gravadoras
da Argentina.
Alicia dominou
com maestria as técnicas da gravura, criando obras que registram uma
figuração peculiar, harmonizando as cores e os claros e escuros,
formando focos melancólicos, serenos e românticos.
Abordava temas
binômios como "vida e arte" e outros focalizando a natureza,
a mulher e a mitologia americana. Dedicou especial atenção a
assuntos que envolviam a "germinação" da vida, do
amor e da reflexão. Pode-se fazer referência ao seu estilo temático,
ainda que se mantenha a característica de cada uma delas, outra artista
expoente da arte, a pintora mexicana Frida Khalo, a qual Alicia prestou muitas
referências e homenagens em suas gravuras.
As obras de
Scavino transmitem uma delicadeza incomum com muita feminilidade e um exímio
talento em harmonizar e contrastar as cores. Suas gravuras se caracterizam
pelo virtuosismo técnico na execução e por sua imensa
expressividade plástica. No conjunto de sua obra, a cor se converte
numa excepcional fonte para configurar-se como confidente aos dramas que demonstram
as maiores inquietudes da artista.
A carreira de
Alicia é a soma de uma constância de dedicação
árdua e gênio artístico. Foi muito requisita por autores
diversos para ilustrar poemas e livros, assim como aconteceu na publicação
homenagem sobre a vida de Diego Maradona.
Na obra Bombardeo
con el café de cada mañana I (1993) vemos o auto-retrato da
autora torturando-se com a leitura de "La Nación". Na gravura
Sombrero Galego (1991) admiramos o romantismo que impera a obra e em El ángel
caído há a emanação de um lirismo onírico
agudo.
Alicia Scavino
é uma das mais célebres artistas da arte contemporânea
da Argentina. O seu prestígio é internacional, conquistado graças
a uma carreira sólida e reconhecido por meio de inúmeros prêmios,
que recebeu desde 1965. Recebeu 36 prêmios, dentre os quais a "distinção
máxima" na 6º International Print, de Taipei, China (1993),
o "Ecqual Prize" na International Art Trienale Majdanek'97, Lublin,
Polônia, o "Purchase Prize Award", Gilkey Center, Portland
Art Museum, EUA (1998) e o "First Prize" no 4th Sapporo International
Print Biennale, Japão. Realizou mais de 60 exposições
individuais e também participou em mais de 60 importantes mostras e
bienais em várias partes do mundo.
Faleceu em Buenos
Aires em 25 de fevereiro deste ano. A ausência da artista é uma
perda irrecuperável para a arte, sobretudo para a gravura, modalidade
esta defendida e desenvolvida com muita desenvoltura pela artista ao longo
dos anos. A primeira homenagem póstuma aconteceu em abril e maio deste
ano no Museo Providencial, em Huelva, Argentina, com a mostra "Imágenes
del Alma" com obras da artista de vários períodos, tendo
como comissário Miguel Carini.
Alicia Scavino
é considerada por especialistas como uma das criadoras plásticas
contemporâneas mais importantes da Argentina e da América do
Sul, assim como diz Olivia Maciel: "Alicia é a via lactea en el
cielo del grabado".
Suas obras figuram,
entre outros, nos seguintes acervos: Museu Epeo de Nocara, Calabria, Itália,
Conseil Québecois de I´Stampa, Montreal - Canadá; Museu
das Artes do Século XX, Praga - República Tcheca; Fine Art Museum,
Taipei - R.O.China; Portland Art Museum, Oregón - USA. Museu de Arte
Moderna, Hokkaido, Sapporo - Japão. Pantwowe Muzeum Na Najdanku, Jublin
- Polônia; Caixa de Orense, Galicia - Espanha; Galería 266, Franjurtesrstrasse
38/22 - Alemanha; Museu Municipal E. Sívori e Salas Nacionais da Argentina;
Art Box, Barcelona - Espanha; Galeria Brita Print, Madrid - Espanha e Museu
Olho Latino, Atibaia, SP - Brasil.
O Museu Olho
Latino também presta sua homenagem à artista em sua inauguração
do espaço em Atibaia, colocando suas obras no painel "Destaque"
da sala do Acervo.
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* Diretor do Museu Olho Latino e Curador do Acervo
Olho Latino
Professor da Faculdade de Artes Visuais - CLC - PUC-Campinas.
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