ASPECTOS DA GRAVURA ARGENTINA NO ACERVO OLHO LATINO

Paulo Cheida Sans*

Foto: Divulgação
Alda Armagni
"Renascimento Espiritual"
Água-forte e água-tinta, 1991

        Para inaugurar a sala do acervo do Museu Olho Latino optamos por escolher obras que transmitissem um pouco a qualidade de nossa coleção. Escolhemos como representantes da Argentina obras de 5 gravadores consagrados e também da Alicia Scavino, numa homenagem póstuma como "Destaque do Acervo".
        O acervo Olho Latino conta com um grande número de obras de importantes artistas desse país. Sendo esta a primeira mostra de uma série que pretendemos expor.
        A Sala Acervo está composta com as gravuras dos seguintes artistas: Alda Armagni, Osvaldo Jalil, Robert Koch, Marta Guerra-Além e Viviana Sierra. A seguir comentaremos um pouco sobre cada expositor.
        Alda Armagni (1933) cada vez mais vem confirmando suas características excepcionais de gravadora. Uma importante particularidade de sua carreira é a decisão de se manter fiel à sua especialidade. Conhece e pratica os procedimentos mais diversos da arte de gravar, tanto em madeira como no metal. Preferiu a ação dos ácidos a outras formas. Cultiva a gravura original com rigor, obedecendo a ética profissional pautada nos parâmetros tradicionais da concepção dessa arte, o que é uma virtude.
        A artista inventa uma espécie de escrituras primitivas de um material idiomático próprio, propondo de modo expressivo que o espectador o assimile e o interprete a seu modo. As obras expostas se vinculam à série sobre culturas pré-hispânicas, que evocam uma liberdade de interpretação muita subjetiva.

Foto: Divulgação
Marta Guerra-Além
"O caracol em tecnocolor"
Serigrafia, 1980

        Alda Armagni é uma das principais gravadoras da Argentina. Participa como membro da Academia Nacional de Belas Artes, expõe desde 1962, tendo realizado exposições individuais na Itália, Holanda, Espanha, Estados Unidos, Chile, Bolívia e em outros países. Participou de numerosos e importantes eventos internacionais, recebendo dezenas de prêmios, entre os quais a "Distinção" na II Bienal Internacional de Gravura, em Buenos Aires (1970). Participou da IV e V Bienais de Arte Moderna de São Paulo. Suas obras figuram nos importantes acervos do Museu de Arte Moderna de Tóquio (Japão), na Biblioteca Nacional de Paris (França), no Castelo Sforzesco em Milão (Itália) e outros.
        Conheci a Marta Guerra-Além (1941) na ocasião da III Mostra Anual de Gravura, realizada em Curitiba, em 1980, evento onde ela participava como curadora da representação da Argentina. Depois, quando fui o curador geral da I Bienal Internacional de Gravura, realizada em Campinas, em 1987, convidei-a para ser a responsável pela indicação de gravadores para a Sala Argentina.

Foto: Divulgação
Osvaldo Jalil
"Regresso com Glória?"
Xilogravura
1993

        A série de gravuras da artista que figuram na coleção Olho Latino são compostas por várias serigrafias de vários formatos e de uma gravura calcográfica. Suas obras mostram uma composição gerada por caracóis que se engendram, formando uma paisagem e um universo surreal. A escolha das cores faz realçar ainda mais o sentido orgânico das formas.
        Marta Guerra expõe desde o final da década de 60 e tem recebido vários prêmios. Participou de inúmeras mostras, como as acontecidas no MOMA, em New York, EUA, no MAM de São Paulo, na Galeria Crozier, em Lyon, França e no Museu de Arte Moderna de Miami, EUA. Como curadora organizou várias exposições de "Gravura Argentina" em vários países das Américas Central e do Sul.
        Outro expositor é Osvaldo Jalil (1950) com as xilogravuras da série "Los Turistas" de grandes formatos. É um gravador completo. Mantêm ateliê para atendimento, participa constantemente de importantes eventos internacionais, atua também como membro de júri de salões, escreve sobre artes, mostra uma inquietude temática que demonstra a sua verdadeira vocação artística como um defensor das injustiças sociais.
        Osvaldo Jalil cursou estudos com Demetrio Urruchú, Juan Lópes Taetzel e Carlos González. Gravura com Carlos Demestre e litografia com José Contino no Ateliê Experimental de Gravura em Havana, Cuba. Desde 1982 é professor em seu próprio ateliê. Participou de inúmeras exposições e de importantes eventos em diversos países. Entre eles: XIV Premio Internazionale Biella per I'Incisione - Biella, Itália; V Bienal internacional de Gravura da Caixa Ourense, Orense - Espanha; 1st World Small printings and Exlibris Works Exhibition Beijing, P.R. China; 3rd Malasia Annual Exhibition of Internacioanl Contemporary Prints - Kuala, Malásia; 4 Triennale Mondiale D'estamps Petit Format - Chamaliére, Auvergne, Francia; Xylon 13 Internacioanale Triennale - Suiça.

Foto: Divulgação
Robert Koch
"Jaulas I"
Xilogravura
1996

        As gravuras do artista pertencentes ao acervo Olho Latino: Regreso con Gloria, Regreso con Gloria II e Buenos Aires Malos Aires mostram a sua preocupação por uma sociedade mais humana e desprendida dos supérfluos.
        As xilogravuras de Robert Koch (1963) intituladas Jaulerias I, Jaulerias II e Jaulerias III mostram um entrelaçamento de linhas, carregando novelos emaranhados contrapondo com áreas menos densas. A luminosidade é conseguida pela escolha adequada do jogo combinatório de cores.
        Robert Koch é professor universitário e, desde 1982, tem participado de numerosas exposições nacionais e internacionais. Participou de Bienais de Gravura de Porto Rico, México, França e Eslovênia. Premiado mais de 20 vezes, é detentor do Primeiro Prêmio de Gravura no Salão Nacional de Desenho e Gravura em 1991 e do Primeiro Prêmio de Gravura de Santa Fé, em 1995, ambos na Argentina. Suas gravuras são poéticas e singelas.
        Viviana Sierra (1957) lida com elementos de memória, com recordações e que fazem o substrato de suas criações que expressam mensagens serenas e silenciosas. A síntese figurativa, as formas geométricas básicas, os planos com texturas cuidadosamente matizados com predominância para as gamas ocres são os elementos com os quais a artista constrói um universo ingênuo e mítico.

Foto: Divulgação
Viviana Sierra
"Vôo III"
Gravura em metal, 1995

        Viviana é professora do Instituto Santa Ana de Belas Artes. Desde 1976 tem participado de várias mostras em seu país e no exterior. Participa ativamente de movimentos de artistas que lutam contra a destruição do meio ambiente. Expôs na Irlanda, França, Polônia e Japão. Entre outros prêmios, recebeu "Menção de Gravura" na Small Graphic Forms de Lodz na Polônia e o Primer Premio Papel Estampa - Museo del Grabado, em Buenos Aires - Argentina.
        A série "Vôo" é feita com gravuras em metal, resultantes da combinação e articulação de matrizes de pequenos formatos, conjugados com o seu talento em trabalhar o papel com técnicas mistas, formando uma espécie de registros sagrados.
        Em suma, a primeira mostra parcial do acervo Olho Latino propõe a apreciação às produções e técnicas distintas da arte da gravura argentina, mostrando um pouco o potencial representativo desse país, que é um dos mais importantes desse segmento artístico na América Latina.

 

 

 

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* Diretor do Museu Olho Latino e Curador do Acervo Olho Latino
Professor da Faculdade de Artes Visuais - CLC - PUC-Campinas.