A GESTAÇÃO DE UM MUSEU DE GRAVURA
Paulo Cheida Sans*
Quando
comecei a colecionar gravuras, não imaginava que a coleção
pudesse pertencer a algum tipo oficial de acervo e nem que iria um dia montar
o Museu Olho Latino. Inicialmente, nos anos finais da década de 80,
a coleção começou, na maioria das vezes, com doações
e algumas permutas com gravuras de minha autoria. Mas foi o meu trabalho constante
em organizar mostras latinas, que fez um aumento substancial da coleção
em meados de 90.
Com
o passar dos anos, a minha esposa, a artista plástica Celina Carvalho,
e eu sabíamos que tínhamos muitas gravuras, mas um dia, resolvemos
verificar de vez a quantidade e qualidade do nosso acervo particular, constituído
em mais de 10 anos, e também as obras que eram da Revista Olho Latino,
fruto das doações de artistas que participaram das mostras que
realizávamos em nome desta publicação.
Ao
verificar as gravuras deparamos com uma quantidade enorme, centenas de obras,
cada uma emanando lembranças de algum modo. Lembrei de inúmeras
correspondências, eventos e de muitos contatos profissionais mantidos
durante anos com importantes gravadores de várias regiões do
mundo. Escolhemos 400 gravuras e resolvemos doá-las para fundar o nosso
próprio Museu, oficializando parte de nosso acervo. Assim, nasceu o
Museu de Arte Contemporânea Olho Latino, no início de 2001, como
extensão de nossa atuação.
Além
da revista, organizamos o Núcleo de Arte com o nome Olho Latino que
está na ativa desde 1986, expondo a produção artística
de Campinas e do interior do Estado de São Paulo. O surgimento do Museu
Olho Latino aconteceu para reunir o que fazíamos, como promotores culturais,
artistas, etc.
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As
400 obras doadas para fundar o Museu Olho Latino em 2001 foram de artistas
do exterior, consagrados, ou seja, possuidores de currículos extensos
e muitos laureados com vários prêmios, que participaram de alguma
mostra que contou com a minha curadoria. A partir desta data começamos
a promover os eventos em nome do Museu Olho Latino e passaram a ter, entre
outros objetivos, o de ampliação da coleção. Como
exemplo, cito as Bienais Nacionais de Gravura, que realizamos em 2002 e 2004,
sendo que a maioria das obras expostas foi incluída nesta coleção.
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Em
virtude da história em que o acervo foi se constituindo, as gravuras
são de artistas que estão, na maioria, ativos como gravadores.
As gravuras nacionais mais antigas que temos são as xilogravuras "Passatempo
Séc. XX", "Um +um= dois?" e "Sem saída"
de Antonio Henrique Amaral, de 1967. Do exterior a mais antiga obra é
a xilogravura "Inútil espera" de 1968, da artista paraguaia
Olga Blinder. Isso mostra que o acervo é jovem, corresponde com a produção
contemporânea das últimas décadas.
Hoje,
o acervo Olho Latino conta com cerca de 1000 obras, que estão sendo
catalogadas e fotografadas conforme a possibilidade. Sem dúvida, esta
coleção é resultado de uma dedicação "apaixonada"
pela arte da gravura.
O
acervo é exposto de modo parcial em mostras temáticas, tais
como: "Xilo Internacional" (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília
e Salvador); "Mostra Internacional de Gravura" (Limeira, SP, Botucatu,
SP e Rio Claro, SP); "Gravura & Brasil" (Franca , SP, Araraquara,
SP, e Brodowski, SP); "Mostra Internacional de Gravura" (São
Carlos, SP). De 2001 a 2004 aconteceram mostras de obras do Acervo Olho Latino
no Instituto Garatuja, em Atibaia, SP, como a "Brasil & Japão"
realizada em 2002.
A
Caixa Cultural realizou em suas galerias a exposição "Grabados
e Gravuras - Aspectos da Gravura no Acervo Olho Latino" exposta em Curitiba
em 2004, e no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília em 2005.
Além
dessas mostras, outras que são promovidas pelo Museu Olho Latino também
contemplam a apresentação parcial do acervo, como aconteceu
na "III Bienal Internacional de Gravura - Olho Latino" (Campinas,
SP e Jundiaí, SP) no final de 2004 e início de 2005.
Nessa primeira fase de gestação do Museu Olho Latino, a dinâmica
em apresentar o seu acervo aconteceu de modo eficiente, por estar em constantes
parcerias com outras instituições, que possibilitaram a realização
das mostras.
Mas,
para ser um museu de verdade, é necessário estar com portas
abertas em local fixo para visitação pública. Graças
à acolhida da Prefeitura da Estância de Atibaia, SP, o Museu
Olho Latino passa a existir de fato.
No
dia 13 de setembro deste ano, aconteceu o início da parceria, com as
presenças do prefeito José Roberto Trícoli, do vice e
secretário de Educação e Cultura, Ricardo do Santos Antonio
e do diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura, Vitor Carvalho, representando
a Prefeitura, e da Celina Carvalho e de minha participação,
em nome do Museu Olho Latino. Também testemunharam o acontecimento
os integrantes do Núcleo de Arte deste Museu, Euclides Sandoval e Márcio
Zago.
Sem
dúvida, o Museu Olho Latino está nascendo numa cidade que, além
de ter uma beleza natural, tem a sublime elevação da conduta
humana, que é a valorização e o respeito à "cultura".
Agradecemos a cidade de Atibaia pela acolhida, incentivo e esperança
em nosso trabalho em pró da arte de modo geral.
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* Diretor do Museu Olho Latino e Curador do Acervo
Olho Latino
Professor da Faculdade de Artes Visuais - CLC - PUC-Campinas.
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